sexta-feira, 18 de junho de 2010

O homem que duvidava de Deus


Nunca li um livro sequer do Saramago. Tinha uma certa simpatia por ser, até onde eu sei, o único lusofono que já ganhou um prêmio Nobel. Em outras palavras, um "orgulho da raça".

Sei também que suas posições esquerdistas eram vistas por boa parte da mídia como uma tolice ultrapassada, mais ou menos como tratam também o Oscar Niemeyer. Enfim....

O que queria dizer é meu espanto com a intolerância mesmo póstuma ao fato dele ser um ateu declarado. Por não acreditar em Deus, os religiosos mais fervorosos, consideram o cara um demônio. Em fóruns, artigos, twitter (até da presidenciável Marina Silva) tudo o que se lê é que o escritor era um pulha, um merda, só pelo fato dele não acreditar.

Não vou entrar no mérito da questão, mas sim da intolerância: afinal, somos ou não uma democracia? Acreditamos que cada um possa ter sua cor, sua posição política ou sua crença (ou a ausência dela) ou não? Acreditamos quando nos é simpática e depois deixamos tudo pra lá?

Não quero aqui dizer que posições contrárias a lei vigente sejam aprováveis, como aquele lavrador maranhense e suas filhas-netas. Mas algo que não é contra a lei, apenas contra a Fé vigente, não pode ser metralhado sumariamente.

Morreu um grande homem, com sua história, crenças e valores. Você pode concordar ou não com as coisas que ele dizia, mas não pode deixar de respeitar sua história.

sábado, 12 de junho de 2010

Vida que passa


Não sei como você coloca marcos em sua vida. Na minha, as Copas do Mundo são os marcos de referência, para saber onde estava, o que fazia, o que pensava e para onde ia. É assim até hoje, minha vida se "marca" de forma quadrienal, e sempre que, como hoje, começa uma Copa, eu paro e lembro de como era minha vida nas outras.

A primeira lembrança que tenho é a Copa de 82. Eu ainda era menino, nem gostava muito de futebol, morava em São Caetano do Sul e só lembro de duas coisas: do Maradona sendo expulso contra o Brasil por uma falta violenta (no Batista) e do meu pai indo viajar depois do jogo fatídico do Paolo Rossi (3x2 contra o Brasil), todo feliz, me dando dinheiro como forma comemorativa. Além disso, ao que consta, eu torci para Itália naquele dia, o que quase me rendeu um linchamento, já em São Bernardo, para onde mudamos.

Em 86, além de termos um novissimo video-cassete que gravava os jogos enquanto meu pai trabalhava, eu estava fissurado por futebol de botão e fui colecionando, semana a semana, times oficiais, que comprava na lojinha de esportes que ficava na esquina da minha escola. Lembro também que acompanhei muitos jogos, e que assisti a derrota do Brasil nos penaltis para a França na casa dos amigos do meu pai, em Sorocaba. Estava na 5a série e a coisa mais marcante nos campos de futebol foi meu time perder da Inter de Limeira.

A Copa da Italia, em 1990, marcou mudança de escola, em meu primeiro colegial. Nos fatos, era a saída definitiva da infância e a entrada na adolescência. Nessa época de férias, lembro de ter jogado muita bola, e visto Camarões superar jogos incríveis, e a Colombia empatar um jogo historico com a Alemanha no finzinho, gol do Rincon. Também era engraçado que eu iria para a Italia ver meus parentes um dia após a final, e respondi umas mil vezes a todo mundo que me perguntava se eu ia ver a final : "Não"

O Tetra-Campeonato de 94 foi já bem diferente. Eu já tinha carta de habilitação e um carro usado, e assisti ao derradeiro jogo na casa de um amigo em Diadema, junto com outros bons amigos. Lembro de termos ido depois do jogo à uma das principais avenidas da cidade, comemorar (na verdade, olhar a mulherada). Mais um fato que lembrei: eu era plantonista do CVV, e na data do 1o. jogo eu estaria de plantão, mas dei sorte e consegui trocá-lo com outra pessoa.

Em 98, minha vida já tinha mudado muito: eu tinha uma namorada e assistimos ao Brasil ser esmagado pela França na casa de um amigo, em São Bernardo. Tinhamos visto outros jogos no mesmo lugar, como a vitoria sobre o Chile e a dura semifinal contra a Holanda. Lembro do Branco fazendo propaganda do Carrefour ao final do jogo dizendo que a "laranja" estava em promoção. Por coincidencia, poucos meses depois eu estava visitando o estádio da final daquela Copa, já como trainee pela multinacional que me contratara.

A Copa da Ásia, em 2002, marcou minha "época profissional", onde eu lembro de ter visto jogos de madrugada em bares. Ou seja, trabalhava até o fim da tarde, ia para casa dormir e acordava 2h da manhã para ver jogos em bares, como o melhor deles, entre Brasil e Inglaterra. E vi a semi-final com a Turquia em um Fran´s Café lotado. E vi a final na casa de um amigo, com sua familia, e fomos para a Paulista depois, e celebramos no Galinheiro Grill. Esses dias acabam não saindo da memória. E falei por telefone com meu grande amigo e padrinho australiano.

A mais recente Copa, da Alemanha, eu estava na maior parte dos jogos vendo sozinho em meu apartamento perto da Av.Paulista. Eu nunca vou esquecer quando a Argentina perdeu o penalti que a eliminou frente à seleção anfitriã e a comemoração no meu prédio e no dos vizinhos foi superior a tudo que eu já tinha visto, inclusive vitórias brasileiras ou de qualquer time. Já a eliminação eu vi na casa dos sogros, no interior paulista. Foi meio frio, pois o time não empolgava, e a eliminação foi como uma ida ao supermercado, nada que emocionasse. Mas nessa época eu já namorava sério e tinha planos de me casar. Tava na hora também, já tinha 31 anos....

E agora? Quais os capitulos memoraveis da Copa deste ano que me lembrarei no futuro??

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Hoje era um dia como outro qualquer. Era.

Acordei raozavelmente sossegado, pois tinha mudado escalas de trabalho para hoje ter o dia livre, dentre outras coisas para cortar meu cabelo, como faço religiosa e bimestralmente, há 13 anos no mesmo lugar. Na minha cidade-sede.

Ir lá não era apenas voltar no tempo. Era andar nas mesmas ruas que eu caminhava na minha infância, era ver como o tempo e o progresso, quando não o regresso, agem em forma de cimento, luminárias e comércio.

Era sentar em uma cadeira que me aguardava, era poder ficar tranqüilo que o serviço sairia como eu queria, saber que não perderia tempo explicando como, mas podendo filosofar sobre política, esportes, empreendedorismo, sem me ater ao fato em si, de cortar os cabelos.

Mas telefonei para marcar, e.... surpresa! O barbeiro (se você for preconceituoso) ou cabeleireiro(pro resto do mundo) não trabalha mais ali.

Vai soar catastrófico demais eu dizer que fiquei órfão ou perdi o rumo? Sim, mas é assim que me senti. Totalmente pego de surpresa por algo que eu não esperava. Ainda consegui um celular dele, mas não está trabalhando no ramo, no momento.

Vale lembrar que no começo deste ano, pressionado por amigos e pela mulher, tive que montar barricada contra a idéia de EXPERIMENTAR um outro profissional do ramo. E agora, tenho mesmo que fazer isto. Seja com esse, seja com outro, tenho que experimentar, mudar.

Eu odeio mudança. Odeio mudar o que está funcionando bem, o que eu gosto. Mudança pra mim é de coisas ruins por coisas boas. Coisas que estão bem por coisas duvidosas não está em pauta.

Enfim, ainda não sei o que farei. Mas espero fazer uma boa escolha e que daqui a muitos anos, eu tenha que me lamentar que essa nova escolha também se foi. E saber me conformar com isso.